quarta-feira, 3 de novembro de 2010

literatura consultada









"APRENDER NO SÉCULO XXI" : NEUROCIÊNCIAS COM UMA PALAVRA A DIZER NAS NOVAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS


AS MAIS RECENTES DESCOBERTAS, NO ÂMBITO DAS NEUROCIÊNCIAS, CONFIRMAM QUE QUALQUER LEITOR
DISPÕE DE UMA MESMA ARQUITECTURA CEREBRAL DE BASE
Encarando a Literacia e o Ensino das Línguas, como uma premente imposição da agenda global do tempo presente a ter de integrar os currículos das nossas escolas, os SurreaHumanity, tal como notificado ontem, tanto mais na sequência de mais uma pertinente sugestão do CCC, remetendo-nos para o acompanhamento televisivo do Campeonato da Língua Portuguesa, na SIC, consideraram como justificada esta sua escolha de hoje : a produção de uma reflexão nossa alusiva às novas orientações, no quadro das neurociências, no que concerne às boas práticas de leitura recomendadas por alguns especialistas de renome.
Nesse sentido, convém sublinhar, com a devida antecedência, que a produção que se segue, dentro em breve, se prende com uma pesquisa do grupo, em concreto com um dos artigos do estimulante "Dossier Aprendre au XXIe siècle", da Edição trimensal de Janeiro-Fevereiro-Março de 2008, Nº 11, da conceituada Revista francesa, Le Monde de L´Intelligence.




O artigo deste dossier que escolhemos para analisar, intitulado "Les neurones se recyclent pour apprendre à lire", com a assinatura de Gilles Marchand, dá-nos a conhecer um novo mundo associado aos clássicos hábitos de leitura, quiçá um misto de inesperado e desejado, pela pena primorosa do Professor Stanislas Dehaene, um dos mais reconhecidos neurocientistas, membro da Academia de Ciências e Docente no Collège de France, na qual exerce as funções de máximo responsável pela tutela da Unidade INSERM-CEA de neuroimagem cognitiva . Na realidade, o seu livro "Les neurones de la lecture", sob o prefácio de Jean-Pierre Changeux, da Odile Jacob Editora, de 2007, desmascara, sem apelo nem agravo, a "mecânica do cérebro leitor" - isto para utilizarmos as suas próprias palavras.

Ora, vejamos, em termos mais precisos, as conclusões apontadas por este seu estudo ... Convém, no entanto, alertar a Blogosfera afecta ao concurso para a eventual traição - à glosa dos entendidos na matéria, apologistas da relação traduzir é trair - involuntária, no nosso processo de tradução dos documentos em questão.


Não sabemos se as Palavras são, ou não são, sons travestidos de Homem, no Rio do Tempo, brotando abruptamente da Fonte das Águas dos Génesis, para, de novo, depois de Babel mergulhar no flamejante Pentecostes Escatológico, retomarem o leito maternal do Mar da Eternidade, de onde nunca chegaram a partir ...
O que vos podemos dizer é que, numa sociedade tecnológica imersa e obcecada por ritmos superacelerados de informação actualizada, em que todos sentimos como inevitável aprender a beber do mesmo "cálice de culturas e línguas", - qual novo Santo Graal atestado de um outro néktar primordial - é pacífico, pensamos nós, concordar com a pertinência do contributo das neurociências e das ditas ciências cognitivas, no sentido de descortinar as melhores práticas didáctico-pedagógicas, no quadro da revitalização de uma literacia - que se deseja como a ponte ideal para o intercâmbio efectivo das culturas - que urge fomentar e inflamar de optimismo.




Nesta matéria, Stanislas Deahene não tem qualquer pejo em afirmar, com todas as letras - passamos a feliz metáfora -, que, por detràs, de cada leitor se esconde uma intricada mecânica neuronal de uma precisão e de uma eficácia, dignas de um límbico sublime, até porque será muito difícil poder conceber, do ponto de vista humano, o extraordinário e sosfisticado padrão de um "cerveau lisant " ( expressão, em língua francesa, que significa cérebero leitor/descodificador ).


A explicação científica apresentada por este cientista avant-garde, a propósito do processo de leitura, remete-nos, invariavelmente, para uma espécie de reciclagem neuronal de uma região cerebral especializada no reconhecimento dos objectos.

Antes de mais, a leitura assume-se como um intricado processo de rebatidos "ecos oculares", passíveis de extrair informações precisas de uma palavra, ou mesmo de um texto, três a quatro vezes por segundo. A posteriori, dá-se, na zona mais central da retina, o reonhecimento da dita palavra, seguindo-se, quase de imediato, a análise ortográfica - independentemente, do tamanho de letra ou do tipo de morfossintaxe utilizada. Este refinado tratamento ortográfico, comum a todas as palavras, efectua-se graças a uma zona específica do cérebro, vulgarmente designada de região occipto-temporal esquerda.





Na continuidade deste complexo e fantástico sistema, duas outras vias são postas em jogo : por um lado, a via fonológica, encarregue de descortinar a pronúnicia da palavra ; enquanto que, por outro, a via de acesso ao léxico mental, o qual nos permite destrinçar a dita palavra, de entre o conjunto das palavras conhecidas, e alcançar ao seu preciso sentido - como que "brincando à hermenêutica". Note-se bem que estas duas vias se mantêm invariáveis no que toca à sua transversalidade nas mais diversas línguas.
Estranho ou não, a verdade é bem clara : todos os sistemas de escrita estudados e conhecidos, incluindo as chamadas escritas logográficas - como são os casos do japonês e do chinês -, nas quais cada caracter representa uma palavra completa. Mesmo nestes casos, segundo nos revela Stanislas, a componente fonológica não é omissa.

Em jeito de final feliz, acrescentamos, tão somente, dois apontamentos adicionais : o primeiro, talvez para espicaçar a vossa curiosidade, passa por vos enfatizar, em tonalidade maior, que estas descobertas científicas, mais cedo ou mais tarde, farão sentir o peso das suas implicações no campo didático e pedagógico das nossas escolas ; em relação ao segundo, garantir-vos, também, que algumas das práticas seguidas, na actualidade, terão se ser abandonadas em detrimento de outras, comprovadamente, mais eficazes e adequadas, vista à luz dos novos meandros da nossa mecânica cerebral, postos a nu pelos modernos meios de neuroimagem cognitiva.

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